19/11/2016

Homenagem ao meu amado e eterno pai



❝ Nada lhe dei nas mãos.
Nem um beijo,
Uma oração, um triste ai.
Eu era tão pequena!...
E fiquei sempre pequenina na grande
Falta que me fez meu pai... ❞
Cora Coralina

NOTA DO AUTOR: se estivesse vivo, meu pai completaria 47 anos hoje. Escrevi este texto em 8 de abril de 2008, dois dias após sua morte, e voltei a revisá-lo agora. Tenho vontade de editar muita coisa do original - os trechos finais são melodramáticos e otimistas demais para o meu gosto. Também não sou de fazer promessas. Fora que a minha visão sobre Deus mudou muito. Enfim, ainda penso o mesmo sobre o meu pai e sinto sua falta imensamente, apesar de querer descartar este texto.

Perdi meu pai. Foi-se tão cedo, que até as flores que preenchiam o caixão pareciam velhas e antiquadas perto dele. As maçãs de seu rosto contrastavam com as retas nítidas e opacas daquele ataúde. Desde então, mudei meu conceito de perfeição. Sim, ainda acredito que ela esteja nos olhos de quem vê e nos detalhes de quem é observado. Ser perfeito, mais do que isso, é ensinar a acertar e aprender com os erros.

Meu pai era perfeito. Ele tinha desenvoltura para brincar, jogo de cintura para falar, mas não gostava de ouvir. Preferia aprender com os erros. Eu sei lá se ele pensava para falar, mas fazia-nos pensar quando falava. Tinha a disposição de um garoto, o estresse de um adulto e a sabedoria de um ancião. Não havia quem não se identificasse com ele.

Hoje, olho para as nuvens e não vejo formar desenhos, sinto os dias longos e a vida curta. Não vejo diferença entre frio e calor. Meu coração está vazio e minha cabeça está cheia.

Nós não escolhemos nossa família graças a Deus, que é sábio e escolhe o melhor para a gente. A missão do meu pai acabou, a minha apenas começou. Deus sabe que o amei incondicionalmente.

Tudo isso me resta de consolo, além das mil palavras deixadas por pessoas próximas, que não descrevo em uma só sensação; e das mil sensações que não descrevo em uma palavra. Não te esquecerei, não te superarei, mas conto com a ajuda de Deus, o amparo dos homens e as leis da natureza, para atingir as expectativas que o senhor tinha para mim. Serei tudo o que o senhor imaginou e um pouco mais do que muitos não botaram fé.

Espero que um dia o nome do senhor não esteja apenas naquela lápide, e sim espalhado pelo mundo, de forma que seja lembrado: suspirado ou gritado. Meu pai, o senhor me ensinou o valor de um ‘não’, mas as coisas certas aprendi só de imitá-lo. Obrigado pelas brincadeiras que pareciam não ter valor e pelos valores que não foram de brincadeira.

Terei um irmão para cuidar, sua mulher para amparar, minha mãe e família para acolher e ser acolhido, além do restante do pessoal para brindarmos juntos, lutas que vencerei em seu nome.

Caso perguntem quem sou, digo que sou filho de Celso Roberto Menezes de Jesus.

Autista de alto desempenho desespero, estrategista esforçado e um formoso fracassão, viveu pequenas ilusões em vez de grandes sonhos e nunca se sentiu gabaritado para falar sobre nada, mas fala por ser idealista teimoso e comunicativo verborrágico.

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