04/02/2016

Meu gosto, minhas regras



❝ A beleza é como uma doença: você deve tratá-la e esperar que passe. ❞
Monica Bellucci


NdA: se você espera um artigo alinhado ao discurso da esquerda, corra, Lola, corra. Este será apenas um texto nada belo sobre belezas, gostos e padrões estéticos, salvo de patrulhas ideológicas, ao menos em sua concepção.


Quando reflito sobre a beleza, lembro-me de uma aula de Estudos da Arte, ministrada pelo professor Carlos Avelino para o curso de Rádio e TV da Universidade Anhembi Morumbi. Naquele dia, Carlinhos causou um silêncio ensurdecedor com uma pequena e simples questão: o que é a beleza?

Poucos ousaram, mas ninguém soube responder. Nem eu saberei. Para fins educativos, aprendemos que a beleza é, muitas vezes, sinônimo de simetria. E mais: pode ser medida em cálculos matemáticos.

Desde a Grécia Antiga, obras são consideradas perfeitas quando obedecem à chamada proporção áurea. A relação divina entre as medidas pode mesmo resultar na beleza, mas não pode ser o único caminho para tal, creio eu. Se a beleza for realmente geométrica como parece, a crítica precisa ser matemática. Se tudo for visto em retas e espirais, o juízo de valor será conclusivo e indiscutível.

Florence Colgate sorri e forma covinhas
Florence Colgate - mesmo linda, usa o Photoshop!


A meu ver, belo é tudo que provoca um ou mais prazeres sensoriais individuais. Em meu caso, com várias e devidas exceções, um rosto é bonito quanto menos assimétrico for, como é o da garota Florence Colgate, vencedora do concurso Lorena: Naked, que premiava a dona do "rosto mais bonito do mundo". Entretanto, nem o conceito grego de beleza nem a beleza grega em si me servem com exatidão. A boca de Alinne Moraes que o diga.

Com os corpos, não poderia agir diferente. Desta vez, outra característica formal foge à regra: a proporção. Nem tudo que considero belo tem proporções harmônicas. Como disse anteriormente, eu não sei definir o que é bonito, sei apreciar apenas.

Entre o dito belo e o dito feio, o que me inquieta mesmo é o ditador e, quando o assunto é beleza, há mais de um tipo.

Como repete o senso comum dos que acreditam escapar dele, a mídia manipuladora cria estereótipos de beleza. Não, a mídia não cria nada, ela só reproduz. O homem cria, a mídia procria.

Os gregos antigos tentavam definir a beleza por meio da matemática e, portanto, criavam padrões e difundiam estereótipos. Você acredita mesmo que todas as figuras retratadas em esculturas tinham corpos atléticos? Por que a arte é blindada da repulsa que a mídia recebe?

Não me incomoda o registro do belo. Se alguém julgou possível defini-lo, por que não registrá-lo? O que me irrita é a manipulação dos objetos para que se tornem perfeitos. Softwares de edição de imagens podem ter usos mais dignos, tenho certeza.

Se foi considerado belo para um registro, por que é necessário alterá-lo? Por que retirar as acnes dos rostos dos homens? Por que mexer nas cinturas das mulheres? Fotografar o lado mais favorável é justo e bem pensado, pois somos assimétricos. Equiparar os lados com sombras e recortes é o ponto falho.




Ao corrigir 'falhas', a mídia ignora que o belo não alcança a proporção áurea e, ainda assim, é belo. Em vez de reparar este erro histórico que determina proporções irreais, ela cria a ilusão de corpo ideal para mulheres, ditando às 'comuns' o que as incomuns não alcançaram sem as devidas edições.

Os grupos midiáticos sabem que o caminho mais fácil para chegar ao ideal de beleza é apostar no conceito de belo clássico, que é quase universal, e não desagrada muitos. É muito mais cômodo que apostar nos variáveis resultados do subjetivo conceito de belo romântico.




Enquanto este lado não admite excessos e exceções, há um outro tão contundente quanto, que quer abolir qualquer padrão estabelecido, transformando gosto pessoal em preconceito e distinção de beleza em discriminação.

Se não gosto de dreads, sou racista. Se não acho bonito um cabelo armado, sou preconceituoso. De todos os estilos capilares afros, só devo gostar do black power e do tererê - este último apenas em mulheres. Sou mais ou menos racista?

Bebê Galloway esboça um sorriso e arregala os olhos
Laren Galloway, considerado por muitos o "bebê mais bonito do mundo".


Eu iria dizer que tenho amigos negros, mas, segundo a esquerda brasileira, essa afirmação é sintoma de racismo. Então, vou tornar mais abrangente - a maioria absoluta dos homens negros que conheço não usa nenhum destes cortes, prefere raspar a careca. Estão negando sua origem? São racistas?

Por que tudo deve se tornar questão racial/social? Há quem goste da mistura, há quem goste da pureza. Eu gosto da mistura brasileira. Negro ou branco, quanto menos misturado, menos me atrai. Sou racista?

Tenho um amigo, pardo como eu, que me confessou não admirar garotas brancas caucasianas. Imagine se ele pensasse assim sobre mulheres negras. Seria considerado racista? Claro ou com certeza? Por quê?

Pichação questiona por que não há paquitas negras
Por que não há negras no Axé Blond? Tem que ver isso aí, hein!


Porque tudo é preconceito.

Eu, por exemplo, costumo ver beleza em bebês recém-nascidos. Alguns acham que eles são feios por terem cara de joelho. Outros os acham bonitos, apesar do formato do rosto. Um dia ainda vão tachar os não simpatizantes com uma fobia qualquer.

Hoje, quem não prefere as gordas é considerado gordofóbico ou lipofóbico. O próprio termo 'gorda' denota preconceito, segundo a nova escola do moralismo. Talvez um dia seja imposto o eufemismo "pessoa com elevada massa ponderal" para substituir palavra tão chula. Até lá, usarei o termo mais curto e menos culto.


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A mesma trupe que confunde preconceito contra aparências com gosto pessoal difunde outra ideia perigosa: todos somos belos. Ela quer que você acredite que não existem padrões, mas eles estão aí e são inúmeros. Ainda bem, imagine se o único padrão de beleza feminino fosse aquele das mulheres da tribo dos Karen Padaung, que usam argolas de cobre para alongar o pescoço. Bonito ou não, é dolorido. Maldita a mídia que impôs este padrão a um povo tão nômade.

Peço desculpas, mas nem a vida é bela. Beleza é só um atributo efêmero, que, como quase todas as outras características humanas, não é exclusiva ou nata a toda espécie. Então, por mais poético que possa ser, quando alguém te diz que você deve se aceitar como é, porque já é belo, ainda está dizendo o que deve ser feito e como deve ser pensado.

Esqueça.

Seja livre para gostar, seja livre para não gostar. Se você gosta de barrigas negativas, ótimo. Se prefere um pouco mais de carne, louvável. Se procura ainda mais, maravilha. Se gosta do cabelo crespo, entendo. Se prefere ele liso, não questiono. Se opta pela calvície, admito.

O que a mídia e as patrulhas ignoram é o fato de que a beleza é relativa. Respeite as opiniões, mas, acima de tudo, respeite o seu gosto, as suas regras.

Aproveite enquanto não é obrigatório gostar de nada.


IMAGENS USADAS NO POST
Oliver Jones / SWNS / Terry Green


P.S. - segundo os fiscais de melanina, eu sou branco. Sou mais escuro que meus pais, mas tenho uma cor de pingado semidesnatado. Na verdade, nasci roxo, mas me registraram como pardo.

Autista de alto desempenho desespero, estrategista esforçado e um formoso fracassão, viveu pequenas ilusões em vez de grandes sonhos e nunca se sentiu gabaritado para falar sobre nada, mas fala por ser idealista teimoso e comunicativo verborrágico.

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